Saturday, April 15, 2006

Os Tênis

Aqueles tênis eram conhecidos. Restos mortais de um “All Star” preto, que de tão surrados ficaram cinzas. Os cadarços desgrenhados davam o toque final. Ele vestia uma calça jeans desbotada e uma camiseta preta, dessas que trazem estampadas imagens de ídolos do rock. Vinha dentro do mesmo ônibus que Ela, que estava sentada e poderia ficar por um longo tempo a olhar para Ele, onde quer que estivesse, o reconheceria.

Ela estava diferente, talvez o cabelo continuasse o mesmo, mas talvez tivesse emagrecido, ou teria engordado?, as cores alegres de suas roupas contrastavam com o triste de seu semblante; a pele amarelada tornava-se acinzentada graças à luz oriunda do teto.

Fazia muito tempo que eles não se viam, não se falavam. Desde a ida dela para a França, para ser mais exata. Ele não aceitou os motivos e as razões da partida dela, não entendia por que Ela precisava ir para tão distante. Desde então não mais se falaram, embora ela continuasse a enviar cartas e postais, os quais ele nunca respondeu. Ela estava indo para estudar e, durante o tempo que passou por lá, não fez muito mais do que isso, salvo o livro que escreveu. Durante todo o tempo que os separou, não conseguiram esquecer um ao outro, nenhum do dois arrumou um novo amor, provavelmente esperavam reatar o namoro. No fundo, criam que a distância não os separaria por muito tempo. Enganavam-se.

Eles agora estavam ali, um diante do outro, algo parecia impedir que se comunicassem. Ele não a tinha visto. Ela temia que aquela fosse a última vez que se vissem e sentia uma necessidade de falar-lhe tudo o que trazia em seu peito, todo o sentimento que ficara adormecido durante aquele longo período de isolamento, seu ponto de descida aproxima-se, ou falava naquele momento ou talvez nunca mais tivesse oportunidade para tanto.

Levantou-se, aproximou-se dele e tocou-lhe o braço. Os olhares se cruzaram. Nos olhos dele uma descrença facilmente visível, afinal, Ela deveria estar bem longe dali. Ele balbuciou seu nome, ela acedeu com a cabeça, fazendo que sim. Aproximou-se do ouvido dele, declarou suas saudades e pediu que conversassem.

Ao ouvir isso, Ele não pode esconder o que sentia, o grande contentamento em vê-la ali, diante de seus olhos, a saudade também o dominava. Aceitou que descessem para conversar.

Desceram e foram , caminhando, conversando. Muitas coisas haviam mudado. Ele agora morava em outro bairro, próximo da faculdade da Sociologia, havia comprado um carro usado, mas preferia pegar ônibus na sexta-feira à noite, um costume quase religioso.

A vida dela na França era bastante bucólica, escrevia para um periódico, passava maior parte lendo, quer em casa, quer no parque, quer na biblioteca. Não conseguia interessar-se por homem algum, seu coração estava preso ao dele, afirmou.

Durante o percurso , suas mãos tocaram-se, quase um ato mecânico, mas tão revestido de sentimento que os deixou com as faces rubras. Com um único gesto conseguiram o que mil palavras não fariam: acabaram com a distância que separava dois corações apaixonados.

As mãos ficaram unidas, não queriam se soltar, nunca haviam desejado tanto estarem juntas. Os olhos não paravam de se encontrar, buscavam as feições, como se quisessem achar as de dois anos atrás. E foi em a sorrisos que os cabelos dela caíram em cima dos olhos, ele os tentou retirar, tocou-lhe a face e ao olha-la ali, enternecida diante dele, beijou-a.

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1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Ei, cara, I'm back.
www.chepooka.zip.net

18 April, 2006 21:52  

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