Monday, December 31, 2007

“Todos os dias que depois vieram, eram tempos de doer. Miguilim tinha sido arrancado de uma porção de coisas, e estava no mesmo lugar. Quando chegava o poder de chorar, era até bom – enquanto estava chorando, parecia que a alma toda se sacudia, misturando ao vivo todas as lembranças, as mais novas e as muito antigas. Mas, no mais das horas, ele estava cansado. Cansado e como que assustado. Sufocado. Ele não era ele mesmo. Diante dele, as pessoas, as coisas, perdiam o peso de ser.

Os lugares, o Mutum – se esvaziavam, numa ligeireza, vagarosos. E Miguilim mesmo se achava diferente de todos. Ao vago, dava a mesma idéia de uma vez, em que, muito pequeno, tinha dormido de dia, fora de seu costume – quando acordou, sentiu o existir do mundo em hora estranha, e perguntou assustado:

-‘Uai, Mãe, hoje já é amanhã?!’”

Trecho de "Campo Geral" - João Guimarães Rosa

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Thursday, December 27, 2007

Ano Novo

Sempre achei as festas e comemorações de fim de ano meio estranhas. Não somente pelo fator compras, como devem ter percebido os que leram o post anterior. Quando eu era pequena, e essa é uma das poucas lembranças que ainda tenho comigo dessa época, eu ficava intrigada com a sistemática do ano novo. Na minha cabeça era como quando a gente tá comendo um pacote de pão integral, e só restam duas fatias no pacote. A mãe da gente logo se apressa em ir ao mercado trazer um pacote novo para que o ciclo não páre. Só que, quando pequena, eu não levava em conta o fator "ir ao mercado". Simplesmente o pacote novo de pão aparecia na geladeira. Da mesma forma, o ano novo. Do nada, na meia-noite do dia 31 surgia o novo pacote de pão, digo, o ano novo.

Depois eu fui crescendo e o ano novo tornou-se sinônimo de andar de bicicleta na avenida Humberto monte até as 3h da manhã sem levar carão da mamãe e ainda poder ir de vez em quando na cozinha da tia Ivone buscar alguma guloseima para levar no bolso. e depois disso eu ia dormir e passava duas semanas achando que a gente ainda estava no ano anterior, sem saber ao certo qual o marco temporal que nos separava do ano que passou. E quer coisa mais estranha do que isso? Afora alguns fatores expostos no post passado como o caso súbito de amor ao próximo que essas datas proporcionam.

E outro dia no ônibus uma senhora lastimando um rapaz ter morrido em plena véspera de Natal. E falava de um jeito tão marcado pela simbologia da data que fiquei me perguntando: "se fosse em qualquer outro dia, não teria problemas?". O que só corrobora para minha estranheza quanto ao significado dessas datas.

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E nem sei se farei promessas de ano novo, os bons e velhos desejos eu já os tenho, mas feitos como planos a cumprir, não promessas. 2008 vai chegar calmo para mim, ao menos eu acho que vá, sem sobressaltos - embora eu ainda fique meio encafifada com a coisa toda das datas. É um ano a priori bem decisivo, mas se a gente for parar para pensar, todo ano é decisivo, porque a gente sempre passa por etapas nos anos que não consideramos necessariamente anos A.

E eu continuo sem entender direito uma série de coisas a respeito da passagem de ano, vamos ver se eu descubro. Espero que 2008 seja bem bacana para todos. =) Muitos livros, filmes, músicas, leituras, saídas, passeios, escritos, planos, amigos, amores, dinheiro, perdões, abraços, sorrisos, diversões, noites das meninas, risadas de besteira com a Carmina, fotografias com a Deise, érrrrpañol com a Raquel, muito trabalho pela frente, feitura de filmes e roteiros. Além de muito carinho entre mamãe, Germana e Eu =)

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Sunday, December 16, 2007

Final de ano e as incontáveis pessoas na rua

Alguém aí já parou para ver quantas pessoas estão na rua neste período do ano? Parece que simplesmente sonou uma sirene e disse "bêêêmmm, é dezembro, já para as ruas comerciais. Shoppings, malls e lojinhas são nossa prioridade, vamos lá, rapazes e moças, contamos com o seu desempenho! Corram, seus lunáticos".

E de repente uma segunda sirene ecoa e diz "hey mocinha do suéter vermelho, isso, você mesma, ah, desculpe, não vi que era apenas uma jaqueta, olhe bem, não estou vendo muitas sacolas em sua mão, então temos que melhorar essa marca, está bem, mocinha?! Já para as compras, foi para isso que lhe enganamos, digo, lhe persuadimos com um platinum card".

Aí está feito. Você vai ter que andar pela cidade e estará fadada a se esbarrar nas pessoas, por mais que você tente desviar, será em vão, pois você vai esbarrar em outra pessoa que virá pelo lado oposto ao seu. E que comecem as filas. você entra no seu supermercado habitual para comprar o seu carioquinha habitual e de repente... bingo!!! Lá está uma enorme fila de pessoas com panetones e frutas secas e cidras e espumantes nada habituais. E isso pode parecer algo ranzinza, mas eu juro que não é, e falo isso com todo o amor no coração, juro!!

Na última quinta-feira, enquanto esperava pelo Gui e pelo André, em plena praça do Ferreira – símbolo de Fortal Village City e centro das festividades natalícias de Cristo -, fui passear pelas lojas, olhar algumas vitrines e era impressionante como às 8h10 da manhã já havia várias pessoas e seus adjuntos, quase adnominais, em meio às gôndolas e comprando. Um das mulheres passou por mim às 8h11, na entrada da loja. Às 8h14 ela voltava com 6 sacolas. Oh, boy! Seis sacolas e abarrotadas. E tudo bem, alguém vai dizer nos comentários que eu posso estar paranóica e que ela podia já ter deixado reservada e todas essas conversas meio enfadonhas que tentam justificar o consumismo. e eu não sou contra as compras em si. Mais uma vez eu digo e reitero: não compreendo porque esse período do ano tem que aglutinar tantas pessoas pelo meio da rua, com um instinto comprador descomunal.

E falando nisso, o pior de tudo é que, com alguns compromissos inadiáveis marcados para a semana que vem, acabo de ser fisgada para me juntar às massas compradoras em plena semana de natal. Sim, se me virem por aí podem tentar me acertar, mas tem que ser bem na cabeça, para evitarmos constragimentos e piadinhas do tipo "ahá, você errou essa". E na lista estão presente para a irmã que mora longe, presente para a irmã que mora perto, lembranças e coisas assim. E antes de que tentem me acusar, não são presentes de natal. Ahá, peguei você! São presentes de aniversário, formatura e todas essas coisas que acabam sendo tragadas para dentro das estatísticas do velho Santa. E já começo a testar todo meu humor e paciência para o que me aguarda nas ruas da cidade.



E me pergunto por onde andam as criancinhas que escreviam para o papai noel e pediam somente um carrinho...

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Thursday, December 06, 2007

Crise de imagem

Outro dia cheguei no trabalho e conversando descontraidamente disparei:

- acho que sou anoréxica.

Silêncio geral na sala.

- por você acha isso?

- Toda vez que me olho no espelho me vejo gorda.

=)

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Tuesday, December 04, 2007

A vida que segue...

Incrível como você passa uma semana fora e algumas coisas parecem que simplesmente não saíram do lugar, mas outras voaram, como se você tivesse passado um mês inteiro fora de circulação, preso em casa com alguma paralisia.

Essa semana foi mais ou menos assim, um retorno. De tanto tempo fora, quando voltei na segunda estava meio pianinho, sem alterar muito o tom de voz e tentando me readaptar à rotina. Confesso que nem foi difícil, mas foi estranho. E quem sabe o que significa estranho pra mim, vai dizer que é normal eu achar isso. Sim, porque eu sempre estranho as coisas, ah, e desconfio também. Disseram até que era mesmo mal de cearense, a coisa toda de ser desconfiada, meio cabreira... será?

E por falar em coisas que mudam, essa semana foi toooodo um processo de caimento de ficha na minha vida. Explico. Eu, pessoa agoniada e apressada por natureza, além de calculadora de prazos e duplicadora de tempo nas horas vagas, resolvi antecipar o término do meu curso de Jornalismo em um semestre. Daí, tudo estava tranqüilo, nem bem lembrava que o fim estava próximo até quinta passada.

Acordei meio grogue de sono, com a idéia em terminar o projeto de monografia para entregar segunda-feira (vulgo ontem) nem bem tomei café da manhã e já fui para os livros, terminar as anotações e leituras. Foi aí que uma luzinha acendeu aqui dentro da minha cabeça e "boom", a ficha começou a cair quanto ao fato de eu estar me formando.

- Pessoas, eu sou uma graduanda!!!!!

E e e de repente aquele sentimento de perda fica se misturando ao sentimento de coisa boa. Difícil entender? Pois é... Desde quinta estou nessa fase de transição, sem saber como será o amanhã, era das incertezas, ai ai, mas eu quero logo ver como é que vai ser.

E acho que isso de ficar pensando em tempo é relativo ao aniversário que chega no sábado... dia 8 de dezembro marca a entrada na casa dos vinte e... completo 21 =)

Daí junta com todo esse clima de natal (que aliás, desde outubro já está no jingle bells) e fim de ano e está feito o coquetel molotov do nostalgismo e da sensação de finitude.

Hoje à tarde fiquei mais ainda assim, penúltimos trabalhos sendo feitos =)

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