Monday, January 22, 2007

A insustentável leveza do ser (ou da natureza das coisas coisadas)

Já reparou que às vezes você deseja tanto uma coisa e, quando essa determinada coisa acontece, você simplesmente murcha, a sua vontade se vai e aquilo parece já não significar tanto para você.
Quebra de expectativa, como alguns diriam. Mas não é bem isso. É como se fosse uma expectativa redimensionada. Ela continua ali, mas com uma pitada de quero mais, como algo que ainda não chegou a acontecer. O que para muito seria quebra de exectativa, acaba sendo uma prévia do que realmente será o evento idealizado.
Aí vem o problema: e se tal situação ficar só na prévia?
Como ser humano é uma coisa coisada... sofre por antecipação... se quebrasse a expectativa, melhor seria.

Daí você bate o telefone pra alguém e esse alguém te responde sem a alegria habitual, mas não com a displicência na voz que te faria desistir, e é exatamente disso que eu falo. Algo que desanima, mas não desilude. Algo que parece a banho maria.

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Saturday, January 13, 2007

Pulp fiction - 1

Saíra à meia-noite para encontrar furtivamente aquele recém-conhecido. Não sabia ao certo para onde ele a levaria, no entanto, essa questão não abalava seu ser nem um pouco que fosse. Surpreendia-se com tal atitude, mas seguia adiante.

Bastaram alguns poucos passos e lá estavam num local soturno, com cheiro de idílio. A mente dela voava e podia perceber a respiração dele cada vez mais próxima de seu pescoço. Estranho ou não, tal situação apetecia bastante. Os lábios se tocaram. Ela sentia aquele hálito com cheiro de bala de menta e o calor que saía da boca carnuda.

Sentia cada movimento que o homem vindo em sua direção fazia. Os passos que a empurravam em direção à parede eram firmes e decididos. Podia sentir as intenções embutidas neles. A rua estava escura, quase-mórbida, uma luz mortícia descia fina de um poste e refletia na poça de água da chuva que caíra havia pouco.

Era a primeira vez que se deixava levar por um rompante. Passara a vida inteira sendo tolhida, reprimida por uma mãe que vivia de aparências e usava a filha de "caça-dotes" em busca de um bom partido que tirasse a família da lama. Estava cansada de tanta hipocrisia, talvez por isso se deixar confiar inteiramente nas mãos de um desconhecido.

Fechou os olhos e a imagem visual que tinha dele era a de um seujeito de sobretudo e chapéu, com a barba bem feita e as mãos suaves a tocarem o corpo dela. Jamais sentira tamanha sensação de liberdade. De olhos fechados, a impressão que tinha era de que o mundo era seu.

Sentia a mão dele passear por suas formas generosas, como se estivesse a mapear todo aquele território do qual tomava posse. O homem beijava-a. Seus lábios percorriam sua nuca e um leve revirar de olhos dela poderia ser percebido. Quem diria que aquela mulher que agora provava do gosto do prazer era a mesma que outrora sofria com as imposições de uma mãe hipócrita?

As mãos iam percorrendo seu corpo e ela se deixava catalogar, cada planície, planalto, monte, ondulação, cada parte de seu corpo ainda vetsido ia sendo descoberto. O beijo dele provocava tamanha efervescência em seus sentidos que era impossível conter alguns espasmos com soluços.

(to be continued)

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