Monday, October 15, 2007

A Saia


Vestiu a saia num impulso. Colocou a primeira camisa que encontrou, amarrou o cabelo e saiu. Distraída como sempre, tinha esquecido as chaves do carro. Subiu, catou o molho na mesa e tornou a sair. No carro, conferiu o batom e o os olhos. Tudo ordinariamente no lugar.

Escutaria o rádio se tivesse comprado um, mas sua economia de guerra não permitia. Ou melhor, o bom senso aconselhara guardar tudo quanto fosse de economia. Quando quisesse música, cantarolasse, ora bolas! Quem precisava gastar quase mil dinheiros num auto-rádio? Onde já se viu uma coisa dessa...


Não reclamou. Seguiu dirigindo, afinal, o que importava era chegar à reunião na hora marcada. Mais um atraso e, a chefe tinha sido categórica, ia para a rua. Apertou o botão do elevador insistentemente, como se fosse apressar a chegada dele. Entrou agradecendo a rapidez com que ele tinha surgido de portas abertas à sua frente e apertou o 13, andar enigmático e sombrio. Seu andar de trabalho.


Enquanto respirava, levantou os olhos e conferiu a roupa no espelho. Umas das sobrancelhas mostrou de pronto a surpresa com que foi pega por aquele reflexo. Não, não é que estivesse feia, até porque muito bonita não era. Estava também minimamente alinhada, vestida no automático como se acostumara.


Olhava para a saia. Aquela saia. Sabe quando um elemento qualquer faz com que você viaje no tempo? Exatamente. Era a primeira vez , depois daquele último encontro, que vestia aquela saia. Justo aquela saia que prometera a si mesma nunca mais pôr no corpo, nem por um decreto de quem quer que fosse. E fazia exatamente um mês daquilo tudo.


Um mês que conseguia viver sem a saia. Um mês que conseguia viver sem o cara que gostava da saia. Sem o cheiro dele e seu hálito lhe aquecendo os sentidos. Os olhos vislumbraram o 12º andar. Precisava esquecer todas aquelas loucuras. Mas como? Afogueada estava. E num gesto típico abanou a saia. Riu sozinha disso.


A vozinha com sotaque estranho e que anunciava todos os andares pelos quais passava proclamou "Décimo Terceiro Andar". As portas se abriram e quem ela encontrou...?

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2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Tô esperando a continuação, Gzinha...

Bjo,

16 October, 2007 20:14  
Blogger Unknown said...

Eiiiii.. Quero saber o resto.... E, de onde tu tira toda essa imaginação e capacidade pa escrever? É genético? Se for.....vim com defeito de fábrica...=)

Bjos, Irmã!

17 October, 2007 15:29  

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